Por Ulisses Pompeu – de Marabá
Mineradora pouco investe na cidade, desvaloriza a cultura, faz promessas que não cumpre e vende imagem de “socialmente correta”
Esta semana, o prefeito de Marabá, João Salame
Neto, resumiu bem o sentimento do povo deste município em relação à
mineradora Vale: “Eu gostaria de ter dez Sinobras aqui do que meia
Vale”. Ao completar 100 anos de história, o município fundado por
Francisco Coelho em 5 de abril de 1913 pode eleger com facilidade a pior
empresa em seu primeiro centenário: Vale.
É ela quem tem de ser responsabilizada pelo
passivo social e econômico que a comunidade de 250 mil pessoas que
residem aqui padece. A instalação do Projeto Grande Carajás trouxe um
oceano de problemas sociais, mas a Vale ajudou o município apenas com um
igarapezinho, para fazer de conta que paga a compensação social que
deveria.
É por isso que o gestor municipal classificou a
Sinobras como uma empresa mais importante para Marabá, embora tenha
menos de sete anos de instalação em nosso município. A Vale tem mais de
30 anos e ainda não disse para que veio. Aliás, disse sim. Veio retirar
nossa riqueza mineral e deixar um bolsão de miséria e crateras em nossas
florestas.
Foram seus projetos de mineração que atraíram
milhares de pessoas para este município, mas a grande maioria acabou
sendo tangida para áreas periférica, com a explosão de invasões urbanas
que nunca receberam um centavo de contrapartida da Vale.
O tamanho da dívida da Vale com Marabá:
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A empresa prometeu reformar e ampliar o Hospital Municipal de Marabá, mas não deu um centavo;
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Deveria investir na construção de creches e escolas do ensino fundamental, mas faz vista grossa para esse setor;
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Ainda na educação, começou a construir a Estação Conhecimento, mas a obra está paralisada há mais de dois anos;
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Enquanto abre crateras no quintal do município para implantar o Projeto Salobo, derrama migalhas em projetos de meio ambiente na cidade para falsear sua atuação;
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Ensaiou a construção de uma mega siderúrgica (Alpa), mas ao primeiro vento de dificuldade parou tudo e causou um apagão na economia local;
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Investe milhões em projetos em Belém (onde não tem nenhum negócio) e deixa Marabá e região sem nada.
Artistas do “Cabelo Seco” se negam a subir em palco da Vale
A banda ‘As Latinhas de Quintal’ do premiado
projeto cultural e educativo ‘Rios de Encontro’, do bairro Cabelo Seco,
adiará sua contribuição às celebrações do centenário de Marabá até dia
27 de abril. O lançamento de seu presente para o povo marabaense, o CD,
‘Amazônia Nossa Terra’, acontecerá no seu próprio palco ‘Rios de
Artistas’ no dia 27 de abril.
Mensagens locais, nacionais e internacionais de
admiração pela atitude vêm chegando para a coordenação do projeto desde a
decisão extraordinária dos jovens artistas de não tocar no aniversário
de Marabá, nem em nenhum palco co-patrocinado pela Vale, começou a
repercutir no mundo virtual. Os diretores do projeto comunicaram a
decisão somente depois de uma conversa cuidadosa com as mães dos jovens
artistas e um diálogo respeitoso e afirmativo com Elias dos Santos,
diretor da programação cultural e do Cine Marrocos.
“Desde 2009, vimos cantando sobre a urgência de
cuidar dos rios, florestas, povos e culturas da Amazônia, “explica Évany
Valente, jovem diretora musical da banda, percussionista e aluna na
escola José Mendonça Virgolino. “Aceitamos com maior orgulho o convite
da Prefeitura para cantar nos dias 5 e dia 7 deste mês. Mas logo depois
que descobrimos que a programação cultural do centenário está sendo
co-patrocinada pela Vale, decidimos que nossa apresentação não vai ser
usada para valorizar o gigante mais responsável pela exploração,
descuido e devastação de nossa Amazônia. Vamos comemorar o centenário,
sim! Mas no nosso próprio palco, comprometido com a vida de nossos
rios”, declarou Évany.
Desde o momento em que a decisão coletiva começou
a se espalhar, gestores culturais, artistas e coordenadores políticos
de redes brasileiras, latino-americanas e mundiais, incluindo da UNESCO
(Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura), da
Aliança Mundial pelas Artes Educação e da Associação Internacional de
Drama e Educação (IDEA), manifestaram sua admiração e solidariedade.
Por conta disso, Évany Valente foi convidada a
abrir o Congresso Mundial da IDEA 2013, em Paris, em julho próximo e a
jovem agente de cultura, Camila Alves, cantora das Latinhas de Quintal,
foi chamada para dançar a perspectiva cultural da banda na mesma
cerimônia da abertura.
A Vale já foi votada em 2012 como a pior empresa do mundo pelo Public Eye Peoples’ Award
(Prêmio Popular do Olhar Público) conhecido como o ‘Oscar da Vergonha’,
“por conta de uma história de 70 anos manchada por repetidas violações
dos direitos humanos, condições desumanas de trabalho, pilhagem de
patrimônio público e pela exploração cruel da natureza”.
Mas ninguém esperava um grupo de jovens de Cabelo
Seco se posicionar com tanta clareza. “Estou emocionada e super
inspirada pela lucidez, coragem e beleza da decisão ética de vocês”,
disse a bailarina e coreógrafa carioca internacional Dora de Andrade,
durante a roda de avaliação de seis dias de colaboração com os jovens
coordenadores das Latinhas, antes de voltar ao Rio de Janeiro. (U.P.)
Durante audiência com o governador em exercício
do Pará, Helenilson Pontes, o vereador Miguel Gomes Filho, o Miguelito
fez um discurso crítico sobre a maneira de a Vale tratar Marabá,
historicamente. “eu acho que só existe três grandes projetos para
Marabá: o Estado de Carajás, a hidrovia Araguaia Tocantins e o terceiro a
Alpa. Não posso conceber que a companhia Vale venha para Marabá e nos
trate como um bando de otários, imbecis chefiados pelo estado do Pará”.
Ele pontuou vários investimentos realizados por
empresários à espera da Alpa, que nunca chegou. “Quem vai pagar esse
prejuízo, estou citando alguns exemplos, mas têm vários exemplos. Marabá
está morta, é uma cidade financeiramente acabada e não tem ninguém para
reagir, ninguém para dizer nada”, desabafou.
Miguelito lembrou que Ipatinga (MG), tem um
projeto muito melhor do que o da Vale, porque a Usiminas ajudou a dotar a
cidade de infraestrutura básica, com asfalto em todas as vias,
esgotamento sanitário, hospital, enquanto Marabá não tem nada disso.
O vereador anunciou que vai entrar com uma ação
contra a Vale pedindo R$ 30 bilhões de indenização para a Vale pelos
prejuízos causados a Marabá. “A mim não interessa o dinheiro, mas sim
que vamos fazer alguma coisa, porque não é possível que nos calemos
diante desse absurdo”, criticou.
Vale deixa comunidade sem luz no fim do túnel
No que depende do olhar dos moradores do Nossa
Senhora Aparecida, ou invasão da Coca-Cola, a obra da construção de um
túnel sob a Estrada de Ferro Carajás está bem longe do que foi prometido
pela mineradora Vale. Segundo João Paiva de Souza, presidente da
Associação dos Moradores a via de acesso construída deveria contar com
asfalto, ciclovia, calçadas e ótima iluminação, porém nada disso se
concretizou. Ele também defende que a relação da Vale com os moradores,
que sofrem agora o impacto da duplicação da ferrovia, não é das
melhores.
Paiva esteve na Redação do CORREIO DO TOCANTINS
para reclamar da pouca objetividade e avanço nas negociações com a
empresa que tem a concessão da estrada de ferro e adianta que está
difícil controlar a revolta dos moradores do bairro, que a qualquer
momento podem invadir e bloquear os trilhos.
“Estamos tendo bastante dificuldade. Desde 2008
temos tido demandas com a Vale por conta de pessoas atropeladas pelo
trem, pessoas assassinadas na ferrovia e o perigo de assalto para os
moradores, devido à espera pela passagem dos trens. Vira e mexe a
população se revolta com esse descaso deles”, comenta.
Sobre o que veio depois, a construção do túnel
que deveria facilitar a vida dos moradores, o resultado foi
decepcionante: “Quando a Vale apresentou o projeto pra gente era uma
coisa bonita, com pavimentação, iluminação pública, duas vias, mas hoje
nos sentimos é prejudicados, pois nada saiu como no projeto”, queixa-se.
Sobre o motivo para não ter pavimentado o túnel,
João narra que a mineradora alegou que só pode fazê-lo depois que a
Prefeitura de Marabá desapropriar áreas pertencentes a duas famílias no
local. “Hoje está só o buraco lá e tem mais, quando chove alaga tudo no
túnel além de já haver relatos de pessoas assaltadas lá dentro”,
especifica. Ele quer que a empresa e a prefeitura entrem num
entendimento sobre o destino do local
Sobre o impacto da duplicação da ferrovia, João
Paiva também se mostra preocupado com a falta de um plano de
investimento da empresa para melhoria da condição de acesso dos
moradores, a não ser o túnel. Na visão dele, seria necessário um anel
viário, ligando os bairros Nossa Senhora Aparecida, Araguaia (Fanta) e
Km 7, de forma a que seja viabilizado o transporte público para a
comunidade. Segundo o líder comunitário, vários ofícios nesse sentido já
foram protocolados e até hoje nada foi feito.
Nota da Vale
Em nota enviada para a Redação do CT, a Vale
esclarece que o túnel do Km 729 da Estrada de Ferro Carajás (EFC), está
liberado em caráter provisório. “A empresa continua atuando na obra para
garantir o conforto e a segurança de moradores e condutores que
utilizam a passagem.
A pista exclusiva para pedestres passou por
melhoria; a sinalização foi redobrada e fixada em local mais visível,
assim como foi feita a iluminação. As ações executadas atendem também as
observações apontadas pelo órgão municipal de trânsito, DMTU, que
esteve no local, a convite da própria Vale, por ocasião da liberação da
passagem.
A Vale reitera que continuará atuando para garantir o conforto e a segurança na travessia de todos que utilizam a travessia”.
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