Por JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO - O
Estado de S.Paulo
O governo, através de seu líder,
Arlindo Chinaglia (PT-SP), calcula que só 150 deputados são fiéis à presidente
Dilma Rousseff. É menos de 30% da Câmara. Parece pouco, mas é muito. O
Basômetro mostra que a fidelidade canina à presidente é menor. Bem menor.
No seu primeiro ano de governo,
Dilma podia contar com 306 deputados federais e 37 senadores em nove de cada
dez votações de interesse do governo no Congresso. Em 2013, esse "núcleo
duro" de apoio está reduzido a 103 deputados e 31 senadores. Só dois de cada
três contabilizados por Chinaglia são mesmo fiéis.
"Identidade ideológica e
política com o governo"? Ok, mas pode chamar de petista: dos 103 deputados
que votaram 90% das vezes ou mais a favor do governo este ano, 79 são do PT. Os
outros raros 24 se dispersam entre PMDB, PP, PTB, PR, PC do B, PV, PSC, PDT e
DEM (sic). Nenhum do PSB. Nenhum do PSD.
Em 10 anos de dinastia petista, o
"núcleo duro" nunca foi tão pequeno. De uma bola de futebol em 2011,
virou uma bolinha de tênis em 2013. Nem na crise do mensalão, em 2005, o
coração do lulopetismo pulsou tão fraco no Congresso. Por quê?
"Talvez Lula dedicasse maior
tempo ao contato com as lideranças políticas. E Dilma talvez dedique menos
tempo a esse tipo de ação", especula Arlindo Chinaglia. Talvez?
É certo que Dilma não gasta seu
tempo como Lula. Não é certo que essa seja a raiz da crise na base governista.
Crise? Que crise?
Dilma perdeu três de 36 votações
nominais na Câmara este ano - metade do que perdeu em 2012. Perder nunca é bom,
mas três derrotas não configuram uma crise. A crise é a ameaça permanente de
crise.
Políticos farejam oportunidades
de aumentar seu poder tão rapidamente quanto tubarões percebem sangue num
aquário. Um governante ferido é uma fonte irresistível de proteína para as
ambições dos selachimorphae brasilienses. E Dilma está ferida?
Mesmo após perder 8 pontos no
Datafolha desta semana, a presidente ainda tem mais popularidade do que
qualquer antecessor na mesma altura do mandato. Mas o que vale é a perspectiva
de poder, não o passado. Os adversários e aliados de ocasião olham para frente
e enxergam um filete vermelho.
O cheiro de sangue percebido
pelos tubarões do Congresso vêm de duas fontes: 1) sinais de que a inflação e o
pibinho devem se estender até o ano eleitoral de 2014; 2) pesquisas anteriores,
não divulgadas, que já apontavam menor apoio popular à presidente. Isoladas,
significam pouco. Juntas, dão margem às oscilações da base governista que
alavancam Cunhas e Eduardos.
Para sangrar o governante, os
tubarões não precisam impingir derrotas sucessivas. Basta criar a expectativa
da derrota. Foi o que aconteceu com Dilma na interminável votação da MP dos
Portos: o governo ganhou, mas de forma tão sofrida que reforçou a imagem de
fragilidade. É o mesmo roteiro que o líder do PMDB, Eduardo Cunha, ameaça
repetir na votação dos vetos presidenciais.
Em 2011, 67 deputados do PMDB
irrigavam o coração do apoio a Dilma na Câmara: votaram mais de 90% das vezes
com a presidente. Em 2013, os 67 viraram 8, e nenhum dos que eram 100% Dilma no
primeiro ano do governo continua no "núcleo duro" do dilmismo. A
criação de dificuldades para venda de facilidades explica boa parte da mudança
de comportamento peemedebista.
Não é o mesmo caso do PSB de
Eduardo Campos. Quando ele era só o governador de Pernambuco, o PSB tinha 92%
de governismo e 26 de seus 30 deputados integravam o "núcleo duro" de
apoio a Dilma na Câmara. Em 2013, com Campos presidenciável, a taxa média de
governismo do partido desabou para 75% e nenhum deputado socialista permanece
no clube dos fiéis à presidente.
Comercialização de facilidades e
fricções eleitorais só tendem a aumentar. Junho terá mais pesquisas sobre a
popularidade da presidente. Outra queda equivaleria a sangue na água - com
potencial de deflagrar uma espiral muito mais desagradável para Dilma do que as
turbulências do avião presidencial.
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